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Palavra da Vida

segunda-feira, 15 de julho de 2013

João Calvino, herege anátema ou homem de Deus?

John Calvin - Geneva Monument

Não se pode questionar a assertiva de que João Calvino é o maior reformador de todos os tempos. Mais foram os escritos sobre ele e sua teologia do que sobre qualquer outra figura na história da igreja, muitos estudiosos e eruditos reivindicam a Calvino o posto de um dos homens mais importantes para a igreja cristã pelo seu legado registrado em 60.000 páginas de piedade, devoção e diligencia na obra do Senhor.

Há pouco mais de 500 anos passados do nascimento de João Calvino é notável como desde que iniciou seus trabalhos em Genebra, e já nas suas primeiras publicações, todos os que têm em alta estima as doutrinas da graça o reivindicam como líder espiritual. Ademais todos que confessam uma teologia absolutamente bíblica e incorporada nos grandes credos dos séculos XVI e XVII são denominados calvinistas por serem adeptos da teologia reformada. Hanko² afirma ainda que existem poucos livros além das Sagradas Escrituras, se é que existem, que têm exercido a influência ao longo dos séculos como o tem feito as Institutas da Religião Cristã.

Tenho plena convicção das minhas limitações e de todo o universo que contemplo à minha frente, contudo gostaria de compartilhar uma breve biografia do grande homem da reforma protestante, João Calvino, bem como sucinto registro de sua obra e documentário pertinente.

Rejeição infundada

É interessante, na verdade estranho, como muitos cristãos evangélicos satanizam a pessoa e o legado de João Calvino. Quando me converti achava curioso à forma como muitos irmãos se referiam de forma pejorativa a Calvino e sua teologia. Infelizmente, na grande maioria dos casos, esta postura era infundada e valia-se do desconhecimento da vida e obra deste homem de Deus. Contudo um pensamento sempre me fustigava: “Se Calvino foi o grande nome da reforma porque as pessoas tem tanta resistência ao homem e sua obra?”.

Diante da inquietude da minha alma por este aparente paradoxo, e pela sede de aprender mais de Deus, comecei a ler as Institutas da Religião Cristã, bem como buscar respostas mais contundentes para toda a prática evangélica hodierna e seu forte contraste, até mesmo contradição, ao relato Escriturístico. A partir deste momento o Espírito de Deus começou a abrir minha visão para a fé genuinamente reformada com seu chamado primordial para o retorno à Palavra de Deus e ao Evangelho da Graça do nosso Senhor.

Alguns de forma perniciosa atacam e reprovam toda a vida de um homem por causa de um ato. Assim intentam para com Calvino, porém devemos entender a circunstâncias e contexto em que os fatos ocorrem, pois esvaziando a relevância do contexto apontado pelos historiadores uns teimam em lançar acusações rasas como prerrogativa para difamar a Calvino e minimizar seu legado. Não obstante lembremos que o único que passou por essa terra sem pecado foi o nosso Senhor Jesus Cristo, e assim como o Reformador de Genebra, temos no livro das nossas próprias vidas muitas páginas que não gostaríamos de tê-las escrito.

Vida

João Calvino, filho de católicos, nasceu em 10 de julho de 1509 em Noyon, ao norte da França. Aos 14 anos se mudou para Paris para estudar latim e artes e obteve aos 17 anos os graus de bacharel e mestre. Nos cinco anos que se seguiram Calvino estudou direito e paralelamente grego, sendo que há fortes indícios que após sua formatura tenha estudado hebraico também. Enquanto estava na escola de direito Calvino se comprometeu com a fé protestante e começou a pregar ocasionalmente.

Como a França era um país católico Calvino teve que fugir. Em sua fuga, em 1536, a caminho de Estrasburgo, Alemanha, Calvino pernoitou em Genebra, Suíça. Nesta ocasião foi convencido por Guilherme Farel, um dos líderes protestantes de Genebra, a permanecer ali e auxiliá-lo na reforma da cidade. Contudo, ambos foram expulsos de Genebra dois anos mais tarde, pois Calvino e Farel mantinham elevadas expectativas morais com relação aos habitantes de Genebra que haviam abraçado o protestantismo recentemente, fato esse que gerou desentendimentos e culminou na expulsão dos reformadores.

Após este evento Calvino finalmente se mudou para Estrasburgo. Permaneceu nesta cidade por três anos, trabalhou como professor universitário e pastor de uma igreja de refugiados franceses, sob a orientação de Martin Bucer, o grande reformador de Estrasburgo. Ali se casou com Idelette de Bure, a viúva de um ex-anabatista. Sua esposa tivera vários filhos, porém, pobre e de débil saúde. Calvino tomou a responsabilidade por eles tanto quanto por ela, contudo viveram juntos por apenas nove anos. Após o falecimento de sua esposa Calvino permaneceu solteiro o resto de sua vida. No tempo em que permaneceram casados tiveram um filho que faleceu na infância, uma perda que o fustigou pelo resto da vida.

Em 1541 Calvino foi convidado a voltar para Genebra e ali permaneceu até a sua morte vinte e três anos mais tarde. Ele não ficou sem inimigos, mas grande parte da oposição política às suas reformas desapareceu em meados da década de 1550, e os últimos dez anos da sua vida foram pacíficos e produtivos. Além de pregar e ensinar, Calvino continuou a oferecer conselhos políticos aos órgãos dirigentes de Genebra, embora nunca tenha ocupado nenhum cargo público e não tenha se tornado um cidadão oficial de Genebra até 1559. Ele também persuadiu as autoridades políticas a construírem uma academia teológica em Genebra, que logo se tornou o seminário reformado mais importante da Europa.

Calvino morreu em 27 de maio de 1564, às vésperas de completar cinquenta e cinco anos. Historiadores afirmam que ele sofreu de várias enfermidades antes de sua morte, na verdade afirmam que tinha ao menos doze grandes doenças no final de sua vida, muitas das quais lhe causavam dor extrema.

Teologia

Calvino relaciona teologia e piedade. A teologia deste homem frequentemente tem sido chamada de “teologia da piedade”, pois ela deve ser sempre utilizada a serviço da piedade e deve conduzir à piedade. Assim Calvino deixa claro que a teologia não é um fim em si mesmo, é prática e está sempre voltada para a piedade cristã. Para ele a teologia não pode ser simplesmente um exercício teórico, mas a teologia sempre deve se relacionar com a vida e a experiência cristã. O conhecimento sobre Deus deve levar ao conhecimento de Deus, e a nossa resposta a Deus é reverência, amor, obediência e confiança.

A teologia de Calvino se mantém relevante nos dias de hoje não só pelo seu conteúdo, mas principalmente porque a sua teologia é bíblica. Em seus escritos ele reconhece a Bíblia, toda ela, Antigo e Novo Testamento, como Palavra de Deus inspirada e infalível, que é autoridade para toda a teologia e vida cristã. Desta forma a consideramos holística, pois se dirige à pessoa de maneira integral e também a todos os aspectos da vida e da sociedade.

Conforme Bierma¹:
“Em suma, a teologia de Calvino nos faz lembrar a fonte (a Escritura), o propósito (a piedade) e o escopo (toda a vida) do trabalho teológico. Parece-me que esses lembretes são tão relevantes para a tarefa teológica em nossos próprios dias e em nosso mundo quanto o foram na Genebra de Calvino há quase 500 anos.”

Obra

Eruditos afirmam que o Reformador de Genebra escreveu mais num espaço de trinta anos do que uma pessoa pode estudar e digerir adequadamente durante toda uma vida. A obra de João Calvino evidencia o teólogo, o exegeta, o polemista, o pastor e, acima de tudo, o cristão preocupado em glorificar a Deus e honrar a sua Palavra. Esse esforço contribuiu para a difusão do movimento reformado por quase toda a Europa e ainda hoje é referência em todo o mundo.

As Institutas: Tem como objetivo ser um guia para o estudo das escrituras. É composta de quatro livros: I – O conhecimento de Deus, o Criador; II – O Conhecimento de Deus, o Redentor; III – A maneira como recebemos a graça de Cristo; IV – Os meios externos pelos quais Deus nos convida para a sociedade de Cristo.

Comentários bíblicos: Os comentários de Calvino são um importante complemento das Institutas. Ele escreveu comentários sobre todos os livros do Novo Testamento (exceto 2 e 3 João e Apocalipse), bem como sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e Isaías. Além disso, foram preservadas as suas preleções sobre todos os profetas.

Sermões: Calvino fazia a exposição sistemática dos livros da Bíblia. Ele costumava pregar até cinco dias na semana. Expunha o Novo Testamento aos domingos e o Antigo Testamento durante a semana. Seus sermões eram anotados taquigraficamente por um grupo de leais refugiados franceses. A série Corpus Reformatorum contém 872 sermões do reformador.

Opúsculos e tratados: Calvino escreveu muitas obras de natureza apologética ao polemizar com católicos, anabatistas, libertinos e outros grupos. Alguns exemplos são a Resposta ao Cardeal  Sadoleto, reações ao Concílio de Trento e a questão das relíquias. Outros escritos seus tratam de temas como a Ceia do Senhor, a doutrina da trindade, a predestinação e o livre arbítrio.

Escritos eclesiásticos: O reformador também produziu muitos textos voltados para diferentes aspectos e necessidades da vida da igreja (escritos catequéticos, confessionais, litúrgicos e outros). Dentre eles se destacam: Instrução e Confissão de Fé, Ordenanças Eclesiásticas, Catecismo da Igreja de Genebra, Saltério de Genebra, Forma das Orações e Cânticos Eclesiásticos e Confissão Galicana.

Cartas: Calvino produziu uma volumosa correspondência dirigida a outros reformadores, governantes de diferentes países, igrejas perseguidas, crentes encarcerados, pastores e colportores (pessoa que vende ou distribui mercadorias de porta em porta, geralmente livros religiosos).

Documentário


1. BIERMA, Lyle D., A RELEVÂNCIA DA TEOLOGIA DE CALVINO PARA O SÉCULO 21.

2. HANKO, Herman C., JOÃO CALVINO: O REFORMADOR SUÍÇO.

3. MATOS, Alderi Souza de, A OBRA LITERÁRIA DE CALVINO.


Saudações em Cristo,

Cláudio Maranhão

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