Porções do Evangelho:

Palavra da Vida

terça-feira, 11 de junho de 2013

Batistas, Pedobatistas e Católicos




Do Batismo


Se realmente quisermos entender plenamente a doutrina do batismo, a mesma deve ser analisada na ótica do plano único da salvação. Nessa percepção faz-se necessário considerar o batismo a partir da aliança de Deus com o seu povo desde o princípio, assim encontramos paralelos fundamentais desse sacramento, meio de graça, sinal e selo para com os eleitos do Senhor, no Novo e no Antigo Testamento.

Neste artigo serão apresentadas, de forma sucinta, as bases e principais diferenças entre as três administrações do batismo:

- Batismo de adultos e crianças a partir da idade da razão (credobatismo): Posição batista, pentecostal e neopentecostal;

- Batismo infantil reformado (pedobatismo): Posição das igrejas reformadas;

- Batismo infantil romano (pedobatismo): Posição da igreja católica apostólica romana (ICAR);

De forma alguma o assunto será aqui esgotado, meu intuito é dirimir dúvidas recorrentes e básicas. Acredito ainda que muitos que lerão este artigo terão o seu primeiro contato com a base bíblica para o batismo de crianças, ficarão surpresos ao saber que este não é um resquício que as igrejas reformadas herdaram da ICAR e, quem sabe, serão despertados a aprofundar no estudo do tema, não se contentando com a superficialidade oferecida pelos argumentos do senso comum e práxis contemporânea (segue ao final do artigo bibliografia utilizada para aprofundamento nos estudos).

História

O batismo cristão foi instituído por Cristo depois de consumada a obra de reconciliação. O batismo é sacramento, e por isso, um dos meios pelo qual o Senhor derrama sua graça sobre seus filhos. Desde o princípio da igreja de Cristo o batismo era considerado rito de iniciação na congregação dos justos e assim permanece até os dias de hoje.

Ao longo da história da igreja o batismo tem sido ministrado com duas principais diferenças: quanto à idade, crianças e adultos, e quanto à forma, aspersão e imersão. Contudo a teologia por trás deste sacramento não é tão simples e seu estudo é negligenciado na grande maioria das igrejas neopentecostais, pentecostais e batistas, mas até mesmo nas reformadas, leia-se calvinistas, muitos tem batizado seus filhos por simples tradição, não atentando para a responsabilidade deste ato diante de Deus e da igreja. Ainda assim as reformadas são mais dadas a este estudo, até mesmo para que se exponha de forma satisfatória a sua posição pedobatista que é pactual e aliancista.

A prática do batismo exclusivo de adultos iniciou-se no século XVII, anterior a esta data o batismo infante era a prática comum e só foi questionado pelos reformadores radicais, os anabatistas ou rebatizadores. Corrobora com esta afirmação o registro de Bavink, em sua Dogmática Reformada, ao final do século XIX: “Hoje em dia, a maioria das igrejas conhece o batismo, virtualmente, apenas como batismo infantil. Com exceção dos campos missionários e das igrejas batistas, o batismo de adultos é uma exceção”.

Os registros históricos dos “pais primitivos” da igreja cristã apontam a prática do batismo de crianças como apostólica e comum, dentre eles pode-se citar Policarpo (Séc. I), Irineu (Séc. II), Tertuliano (Séc. II), Justino Mártir (Séc. II), Orígenes (Séc. III), Hipólito (Séc. III) e Agostinho (Séc. IV).

A maior objeção ao batismo de crianças dá-se, na verdade, pela associação errônea do batismo reformado com o batismo da igreja de Roma. Esta associação parte, em geral, dos dispensacionalistas, dos neófitos e dos que desconhecem completamente a base bíblica teológica que subsidia a sua prática.

Batistas

A posição batista, introduzida pelos anabatistas no século XVII, é a que predomina na igreja de hoje. Os batistas defendem o batismo por imersão para adultos e, em alguns casos e congregações, crianças acima dos cinco ou seis anos de idade, quando estes demonstram interesse de serem batizados, e tomam a decisão de “descer” às águas mediante confissão pública de fé.

Para os anabatistas as crianças não tinham lugar nenhum na igreja, os adultos tornavam-se parte da igreja de Cristo através do batismo, este era sempre ministrado por imersão e precedido de confissão pública de fé. Esta posição ganhou notoriedade pelo aumento do volume de fieis batistas, pentecostais e neopentecostais, por isso é a menos debatida na igreja hoje, já que, além de representar o pensamento da maioria cristã evangélica, apresenta argumentos simples e diretos, aparentemente contundentes, já que os textos bíblicos apresentados são diretos e tem aspecto de suficiência em si mesmos, todavia o argumento desconsidera a unidade das escrituras no Antigo e Novo Testamentos.

De forma prática esse batismo representa a regeneração, marca o início da nova vida em Cristo, mas não sela a salvação, pois como a grande maioria batista é arminiana esses crêem que pode-se “cair da graça” e “perder” a salvação. Consideram ainda o batismo como ordenança e não sacramento, empobrecem seu significado quando afirmam que o batismo é apenas um símbolo, não lhe atribuindo a posição de sinal e selo da aliança de Deus com o seu povo eleito.

Os batistas se opõem de maneira veemente ao batismo infante, já que baseiam-se no princípio da fé ativa para tal, mas como então resolver, pela lógica, o problema criado pelo argumento que utilizam para defender a salvação das crianças, já que estas ainda não podem confessar publicamente a fé? Enfim, ainda não foi revelado argumento satisfatório para harmonizar o problema exposto.

Pedobatistas

Constituem a grande maioria das igrejas reformadas, batizam crianças, sendo elas filhos de pais crentes, ambos os pais, ou um só. Esse batismo é ministrado usualmente por aspersão e tem como fundamento a teologia aliancista ou teologia do pacto. Os reformados baseiam-se em princípios não tão simples e diretos quanto os batistas para a sua prática, mas em fundamentos profundos da soberania e eleição de Deus para um povo separado para Ele. O princípio dessa aliança do Senhor com o Seu povo foi firmada desde a eternidade e confirmada em Adão, Noé, Abraão, Moisés, Josué, Davi e, de forma cabal e definitiva, em Cristo. Contudo os reformados não entendem estas alianças como diferentes dispensações, mas a mesma dispensação administrada de formas diferentes, considerando desta forma o Antigo Testamento (Antiga Aliança) e o Novo Testamento (Nova Aliança) como uma unidade orgânica e não como unidade fracionada como procedem os dispensacionalistas.

Embora não haja instrução direta para batismo de crianças nas escrituras, também não vemos sua proibição. Tanto nos evangelhos quanto nos escritos apostólicos, a igreja de Cristo estava começando (igreja missionária), assim apenas adultos se converteriam e somente mais tarde estes cristãos alcançariam o discernimento da necessidade de instruir os seus filhos nos caminhos do Senhor e então batizá-los. Ainda assim temos vários exemplos de famílias inteiras sendo batizadas e, embora não haja prova conclusiva, pode-se supor que nessas famílias, geralmente numerosas, houvessem crianças.

Vale ainda discorrer a respeito da aliança de Deus para com os seus. A aliança de Deus com Abraão era, em primeiro lugar, uma aliança espiritual, nessa aliança a circuncisão era um sinal e selo. Esta aliança ainda está em vigência e é igual à aliança da presente dispensação, isso se dá porque o Mediador é o mesmo, a fé é a mesma e as bênçãos são as mesmas. As crianças sempre participaram das benesses da aliança, de forma que o sinal e o selo era a circuncisão, e através dela eram consideradas parte integrante do povo de Deus, Israel, estavam presentes quando a aliança era renovada e estavam presentes nas assembléias religiosas. Se as crianças fossem excluídas na nova dispensação uma declaração clara a respeito deveria ser registrada e ensinada por Jesus e pelos apóstolos, todavia o batismo substitui a circuncisão, mas se as crianças não são mais circuncidadas qual seria o sinal e selo para elas? Ou as crianças não devem mais ser introduzidas à nação de Deus? Ora, se as crianças recebiam o sinal e selo da aliança na antiga dispensação, pressupõe-se que elas têm direito de recebê-lo na nova, já que os fiéis do Velho Testamento eram ensinados a aguardá-la como sendo uma dispensação muito mais completa e muito mais rica que a primeira. Encontramos ainda a declaração de Paulo em Cl 2:11,12 que liga a circuncisão ao batismo, ensinando que a circuncisão de Cristo, ou a circuncisão do coração que é simbolizada pela circuncisão da carne, agora é realizada pelo batismo, pelo que ele simboliza.

Abaixo trecho do argumento de João Calvino a favor do batismo infante:

Portanto, é evidente que o batismo infantil não foi inventado temerariamente pelos homens, porquanto é confirmado de modo irrefutável pela Escritura. Tampouco tem valor algum a objeção que alguns apresentam de que em parte alguma se acha sequer uma criança sendo batizada pelas mãos dos apóstolos. Pois embora isto não seja expressamente narrado pelos evangelistas, todavia, visto que elas não são, por outro lado, excluídas sempre se faz menção de alguma família batizada, quem, a não ser que seja demente, daí não concluiria que tais crianças foram de fato batizadas?

Caso argumentos desse gênero tivessem alguma força, as mulheres deveriam igualmente ser vedadas da Ceia do Senhor, das quais não lemos que fossem admitidas no tempo dos apóstolos. Mas também aqui nos contentamos com a regra da fé, pois quando ponderamos qual seja o propósito da instituição da Ceia, disso também é fácil concluir que o uso deve ser-lhe comunicado, o que também observamos no batismo. Com efeito, quando atentamos para o propósito de sua instituição, vemos claramente que o batismo também compete às crianças, não menos que aos mais avançados em idade. Conseqüentemente, as crianças não podem ser privadas dele sem que se faça manifesta perfídia ao desígnio de Deus, seu Autor. A afirmação que se divulga entre o povo comum, de que uma longa série de anos passou depois da ressurreição de Cristo, durante a qual o pedobatismo era desconhecido, é uma despudorada falsidade, visto que não há escritor, por mais antigo que seja, que não trace sua origem aos dias dos apóstolos.

Como os reformados consideram o batismo um sacramento, cabe aqui o registro deste assunto contido na Confissão de Fé de Westminster (Cap. XXVII, Art.I.):

Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus para representar Cristo e seus benefícios, e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o restante do mundo, e solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua Palavra.

Ainda conforme a CFW (Cap. XXVII) batismo deve ser feito em água, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, por um ministro ordenado do Evangelho. Pode ser feito por imersão, efusão ou aspersão, não só os que de fato professam a sua fé em Cristo e obediência a ele, mas também os filhos de pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados. É um sacramento importante, mas não é considerada essencial à salvação ou garantia de regeneração para os que o recebem. Sobre a sua eficácia, toma-se como pressuposto que, no batismo, a graça do Espírito Santo é mais do que oferecida, ela é manifestada e conferida pelo Espírito Santo àqueles que, de acordo com o conselho da vontade de Deus e no tempo determinado, devem recebê-la.

Católicos

A ICAR tem também como prática o batismo infante, mas traz em sua visão teológica vários pontos que são refutados pelos reformados. Essa teologia sofre forte influência do universalismo no que diz respeito à salvação, além de toda a evolução mística e simbólica imputada à prática ao longo dos anos.
Abaixo alguns pontos defendidos pela teologia católica romana no batismo, pontos que de maneira alguma são aceitos pelos reformadores e que distinguem, a não ser pela forma, completamente o batismo romano do batismo das igrejas reformadas:

- O batismo liberta do pecado original;

- No batismo recebe-se para sempre a Cristo;

- No momento do batismo a criança é regenerada;

- A água traz em si algo mágico, um poder divino em sua substância que garante a eficácia do batismo;

- O batismo age ex opere operato, isto quer dizer, é eficaz pela ação do próprio objeto;

- É ministrado em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo e também em nome de alguma padroeira, padroeiro ou santo, considerando-se a ocasião e regionalidade;

- No momento do batismo Deus designa um anjo para proteger e aconselhar esta criança por toda a vida, usualmente chamado de anjo da guarda, mas a doutrina católica romana o define como “Anjo Custódio”;

Desta forma, ainda que os Católicos Romanos façam menção à aliança de Deus com Seu povo e substituição da circuncisão, pode-se concluir que a base para o batismo de crianças é muito diferente entre as duas linhas teológicas.

Considerações Finais

Pela breve exposição nota-se que, analisando o batismo a partir a teologia da aliança, há um vasto e sólido conjunto de argumentos bíblicos que legitimam o batismo de crianças. O pedobatismo considera e estabelece ainda como primordial a responsabilidade dos pais em estimular e educar de maneira mui zelosa seus filhos no caminho do Senhor, deixando claro também que as crianças são parte do Reino de Deus e por isso são parte da igreja de Cristo.

Atualmente os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil ainda encontram problemas quando solicitam transferência para as Igrejas Batistas Brasileiras, filiadas à CBB, pois essas determinam que os batizados na infância sejam rebatizados para integrar a igreja local. Contudo a IPB recebe como membros os que advêm de igrejas genuinamente cristãs, que passaram por batismo bíblico, claro, após cuidadoso exame das convicções doutrinarias destes por parte do conselho, demonstração de fé em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador, além da necessidade de se professar está fé diante da igreja local. Aqueles que vêm de denominações consideradas como seitas pela IPB, adeptas de teologia e procedimentos contrários à Bíblia, devem passar pelo processo de catecumenato para só então serem batizados e recebidos como parte da igreja de Cristo.

Cabe ainda ressaltar que, apesar de todas as diferenças sobre o batismo, as igrejas genuinamente cristãs e evangélicas, continuam a reconhecer um só Senhor, uma só fé e um só batismo ministrado sempre em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Em tempo, o que define o corpo de Cristo, não é a forma de administrar o batismo, muito menos questões secundárias e terciárias da fé, mas sim a convergência nos pontos principais da fé em Jesus Cristo, por exemplo, o que é fundamental no Credo Apostólico, a inerrância e suficiência da Bíblia como Palavra de Deus, a necessidade de santificação, a busca pela glória de Deus, por estes, e outros pontos, tanto reformados como pentecostais consideram-se irmãos e devem conviver fraternalmente em Cristo. Todavia creio que a doutrina reformada imuniza contra as heresias que insistem em proliferar em nossas igrejas, é fundamental para amadurecimento do cristão e garante verdadeiro desfrutar da maravilhosa graça do Senhor. Entretanto, também por essa graça, tenho a convicção que a salvação não está de forma alguma atrelada ao conhecimento teológico do homem, mas sim ao beneplácito da vontade de Cristo Jesus.

Saudações em Cristo,

Cláudio Maranhão

P.S.1: Escrevo como dissidente da doutrina batista, batizado na idade da razão, pois me converti adulto, já que nasci em família católico romana. Defendi por muitos anos o credobatismo por simples desconhecimento da visão reformada, contudo respeito à opinião dos meus amados irmãos em Cristo;


P.S.2: Meus filhos João Pedro (agora com 04 anos) e Arthur (agora com 03 meses) já foram batizados, pois creio que nasceram para a salvação, são parte da aliança que Deus fez com seu povo escolhido desde a eternidade e pertencem, indubitavelmente, à igreja do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo;

Bibliografia:

A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

BAVINCK, Herman, Dogmática Reformada vol. 3, 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã

CALVINO, João. As Institutas. Vol. IV. Trad. Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura
Cristã, 2006.

DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia, Vol. 1, 3ª Ed. São Paulo, Vida Nova, 2006

HANKO, Herman. Duas dispensações? http://monergismo.com/herman-hanko/duas-dispensacoes/ - Acessado em 14/5/2013

Manual Presbiteriano 2013, São Paulo

PEREIRA, Helder Nozima. Uma Análise Histórico-Teológica do Batismo Infantil, Monografia, BRASÍLIA, 2006

Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira.

Princípios Batistas.

2 comentários:

  1. Fantástico. Parabenizo pelo maravilhoso esclarecimento.
    Obrigado
    Mis. Wilma
    IPB em Nono Horizonte - Serra - ES

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelas palavras de encorajamento irmã. A Deus toda a Glória.

      Abraços fraternos,

      Cláudio

      Excluir

"Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem." Ef 4:29

Reservo-me ao direito de não publicar comentários anônimos.

Obrigado pela visita!

Que Deus abençoe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...