John Calvin - Geneva Monument |
Não
se pode questionar a assertiva de que João Calvino é o maior reformador de
todos os tempos. Mais foram os escritos sobre ele e sua teologia do que sobre
qualquer outra figura na história da igreja, muitos estudiosos e eruditos
reivindicam a Calvino o posto de um dos homens mais importantes para a igreja
cristã pelo seu legado registrado em 60.000 páginas de piedade, devoção e
diligencia na obra do Senhor.
Há
pouco mais de 500 anos passados do nascimento de João Calvino é notável como
desde que iniciou seus trabalhos em Genebra, e já nas suas primeiras
publicações, todos os que têm em alta estima as doutrinas da graça o
reivindicam como líder espiritual. Ademais todos que confessam uma teologia
absolutamente bíblica e incorporada nos grandes credos dos séculos XVI e XVII
são denominados calvinistas por serem adeptos da teologia reformada. Hanko²
afirma ainda que existem poucos livros além das Sagradas Escrituras, se é que
existem, que têm exercido a influência ao longo dos séculos como o tem feito as
Institutas da Religião Cristã.
Tenho plena convicção das
minhas limitações e de todo o universo que contemplo à minha frente, contudo
gostaria de compartilhar uma breve biografia do grande homem da reforma
protestante, João Calvino, bem como sucinto registro de sua obra e documentário
pertinente.
Rejeição infundada
É interessante, na verdade
estranho, como muitos cristãos evangélicos satanizam a pessoa e o legado de
João Calvino. Quando me converti achava curioso à forma como muitos irmãos se
referiam de forma pejorativa a Calvino e sua teologia. Infelizmente, na grande
maioria dos casos, esta postura era infundada e valia-se do desconhecimento da
vida e obra deste homem de Deus. Contudo um pensamento sempre me fustigava: “Se Calvino foi o grande nome da reforma
porque as pessoas tem tanta resistência ao homem e sua obra?”.
Diante da inquietude da
minha alma por este aparente paradoxo, e pela sede de aprender mais de Deus,
comecei a ler as Institutas da Religião
Cristã, bem como buscar respostas mais contundentes para toda a prática
evangélica hodierna e seu forte contraste, até mesmo contradição, ao relato
Escriturístico. A partir deste momento o Espírito de Deus começou a abrir minha
visão para a fé genuinamente reformada com seu chamado primordial para o retorno
à Palavra de Deus e ao Evangelho da Graça do nosso Senhor.
Alguns de forma perniciosa
atacam e reprovam toda a vida de um homem por causa de um ato. Assim intentam
para com Calvino, porém devemos entender a circunstâncias e contexto em que os
fatos ocorrem, pois esvaziando a relevância do contexto apontado pelos
historiadores uns teimam em lançar acusações rasas como prerrogativa para
difamar a Calvino e minimizar seu legado. Não obstante lembremos que o único
que passou por essa terra sem pecado foi o nosso Senhor Jesus Cristo, e assim
como o Reformador de Genebra, temos no livro das nossas próprias vidas muitas
páginas que não gostaríamos de tê-las escrito.
Vida
João
Calvino, filho de católicos, nasceu em 10 de julho de 1509 em Noyon, ao norte
da França. Aos 14 anos se mudou para Paris para estudar latim e artes e obteve
aos 17 anos os graus de bacharel e mestre. Nos cinco anos que se seguiram
Calvino estudou direito e paralelamente grego, sendo que há fortes indícios que
após sua formatura tenha estudado hebraico também. Enquanto estava na escola de
direito Calvino se comprometeu com a fé protestante e começou a pregar
ocasionalmente.
Como
a França era um país católico Calvino teve que fugir. Em sua fuga, em 1536, a caminho de Estrasburgo, Alemanha, Calvino
pernoitou em Genebra, Suíça. Nesta ocasião foi convencido por Guilherme Farel,
um dos líderes protestantes de Genebra, a permanecer ali e auxiliá-lo na
reforma da cidade. Contudo, ambos foram expulsos de Genebra dois anos mais
tarde, pois Calvino e Farel mantinham elevadas expectativas morais com relação
aos habitantes de Genebra que haviam abraçado o protestantismo recentemente,
fato esse que gerou desentendimentos e culminou na expulsão dos reformadores.
Após este evento Calvino
finalmente se mudou para Estrasburgo. Permaneceu nesta cidade por três anos,
trabalhou como professor universitário e pastor de uma igreja de refugiados
franceses, sob a orientação de Martin Bucer, o grande reformador de
Estrasburgo. Ali se casou com Idelette de Bure, a viúva de um
ex-anabatista. Sua esposa tivera vários filhos, porém, pobre e de débil saúde.
Calvino tomou a responsabilidade por eles tanto quanto por ela, contudo viveram
juntos por apenas nove anos. Após o falecimento de sua esposa Calvino
permaneceu solteiro o resto de sua vida. No tempo em que permaneceram casados
tiveram um filho que faleceu na infância, uma perda que o fustigou pelo resto
da vida.
Em 1541 Calvino foi
convidado a voltar para Genebra e ali permaneceu até a sua morte vinte e três
anos mais tarde. Ele não ficou sem inimigos, mas grande parte da oposição
política às suas reformas desapareceu em meados da década de 1550, e os últimos
dez anos da sua vida foram pacíficos e produtivos. Além de pregar e ensinar,
Calvino continuou a oferecer conselhos políticos aos órgãos dirigentes de
Genebra, embora nunca tenha ocupado nenhum cargo público e não tenha se tornado
um cidadão oficial de Genebra até 1559. Ele também persuadiu as autoridades políticas
a construírem uma academia teológica em Genebra, que logo se tornou o seminário
reformado mais importante da Europa.
Calvino morreu em 27 de maio de 1564,
às vésperas de completar cinquenta e cinco anos. Historiadores afirmam que ele
sofreu de várias enfermidades antes de sua morte, na verdade afirmam que tinha
ao menos doze grandes doenças no final de sua vida, muitas das quais lhe
causavam dor extrema.
Teologia
Calvino
relaciona teologia e piedade. A teologia deste homem frequentemente tem sido chamada
de “teologia da piedade”, pois ela deve ser sempre utilizada a serviço da
piedade e deve conduzir à piedade. Assim Calvino deixa claro que a teologia não
é um fim em si mesmo, é prática e está sempre voltada para a piedade cristã.
Para ele a teologia não pode ser simplesmente um exercício teórico, mas a
teologia sempre deve se relacionar com a vida e a experiência cristã. O
conhecimento sobre Deus deve levar ao conhecimento de Deus, e a nossa resposta
a Deus é reverência, amor, obediência e confiança.
A
teologia de Calvino se mantém relevante nos dias de hoje não só pelo seu
conteúdo, mas principalmente porque a sua teologia é bíblica. Em seus escritos
ele reconhece a Bíblia, toda ela, Antigo e Novo Testamento, como Palavra de
Deus inspirada e infalível, que é autoridade para toda a teologia e vida
cristã. Desta forma a consideramos holística, pois se dirige à pessoa de
maneira integral e também a todos os aspectos da vida e da sociedade.
Conforme Bierma¹:
“Em suma, a teologia de Calvino nos faz lembrar a fonte (a Escritura), o propósito (a piedade) e o escopo (toda a vida) do trabalho teológico. Parece-me que esses lembretes são tão relevantes para a tarefa teológica em nossos próprios dias e em nosso mundo quanto o foram na Genebra de Calvino há quase 500 anos.”
Obra
Eruditos afirmam que o
Reformador de Genebra escreveu mais num espaço de trinta anos do que uma pessoa
pode estudar e digerir adequadamente durante toda uma vida. A obra de João
Calvino evidencia o teólogo, o exegeta, o polemista, o pastor e, acima de tudo,
o cristão preocupado em glorificar a Deus e honrar a sua Palavra. Esse esforço
contribuiu para a difusão do movimento reformado por quase toda a Europa e
ainda hoje é referência em todo o mundo.
As
Institutas: Tem como
objetivo ser um guia para o estudo das escrituras. É composta de quatro livros:
I – O conhecimento de Deus, o Criador; II – O Conhecimento de Deus, o Redentor;
III – A maneira como recebemos a graça de Cristo; IV – Os meios externos pelos
quais Deus nos convida para a sociedade de Cristo.
Comentários
bíblicos: Os
comentários de Calvino são um importante complemento das Institutas. Ele
escreveu comentários sobre todos os livros do Novo Testamento (exceto 2 e 3
João e Apocalipse), bem como sobre o Pentateuco, Josué, Salmos e Isaías. Além
disso, foram preservadas as suas preleções sobre todos os profetas.
Sermões: Calvino fazia a exposição sistemática
dos livros da Bíblia. Ele costumava pregar até cinco dias na semana. Expunha o
Novo Testamento aos domingos e o Antigo Testamento durante a semana. Seus
sermões eram anotados taquigraficamente por um grupo de leais refugiados
franceses. A série Corpus
Reformatorum contém 872
sermões do reformador.
Opúsculos
e tratados: Calvino
escreveu muitas obras de natureza apologética ao polemizar com católicos,
anabatistas, libertinos e outros grupos. Alguns exemplos são a Resposta ao Cardeal Sadoleto,
reações ao Concílio de Trento e a questão das relíquias. Outros escritos seus tratam
de temas como a Ceia do Senhor, a doutrina da trindade, a predestinação e o
livre arbítrio.
Escritos
eclesiásticos: O
reformador também produziu muitos textos voltados para diferentes aspectos e
necessidades da vida da igreja (escritos catequéticos, confessionais,
litúrgicos e outros). Dentre eles se destacam: Instrução e Confissão de Fé, Ordenanças Eclesiásticas, Catecismo da Igreja de Genebra, Saltério de Genebra, Forma das Orações e Cânticos
Eclesiásticos e Confissão Galicana.
Cartas: Calvino produziu uma
volumosa correspondência dirigida a outros reformadores, governantes de
diferentes países, igrejas perseguidas, crentes encarcerados, pastores e colportores
(pessoa que vende ou distribui
mercadorias de porta em porta, geralmente livros religiosos).
Documentário
1. BIERMA, Lyle
D., A RELEVÂNCIA DA TEOLOGIA DE CALVINO PARA O SÉCULO 21.
2. HANKO, Herman
C., JOÃO CALVINO: O REFORMADOR SUÍÇO.
3. MATOS, Alderi
Souza de, A OBRA LITERÁRIA DE CALVINO.
Saudações em Cristo,
Cláudio Maranhão
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